O braço de ferro jurídico entre Kylian Mbappé e o Paris Saint-Germain (PSG) chegou a um desfecho determinante. Em uma decisão que reverbera por toda a Europa, o Tribunal de Paris deu ganho de causa ao astro francês, ordenando que o clube da capital pague uma quantia astronômica de aproximadamente € 61 milhões (cerca de R$ 320 milhões) referente a salários e bônus atrasados.
A notícia, antecipada pela rádio francesa RMC Sport, marca uma derrota amarga para a gestão de Nasser Al-Khelaïfi e encerra — ao menos no âmbito desta instância — um dos capítulos mais conturbados da história recente do futebol francês.
O Coração da Disputa: O "Acordo de Cavalheiros" que Falhou
A batalha legal teve início logo após a transferência de Mbappé para o Real Madrid, no verão europeu de 2024. O PSG reteve o pagamento de parte do salário de abril, maio e junho, além de um bônus de fidelidade previsto no contrato renovado em 2022.
A defesa do clube alegava que existia um acordo verbal feito em agosto de 2023. Segundo o PSG, Mbappé teria concordado em abrir mão desses valores caso deixasse o clube a custo zero (sem taxa de transferência), visando não prejudicar as finanças da instituição. No entanto, o jogador e seus advogados sustentaram que tal acordo nunca foi formalizado ou assinado, tornando as retenções salariais ilegais perante a lei trabalhista francesa.
A Decisão do Tribunal e a LFP
Antes de chegar ao Tribunal de Paris, o caso passou pelas comissões da LFP (Liga de Futebol Profissional) da França. Em todas as etapas anteriores, a liga já havia sinalizado que o PSG não tinha base legal para reter os vencimentos do atleta.
O clube parisiense recorreu das decisões iniciais, insistindo na tese do compromisso ético do jogador. Contudo, a justiça comum seguiu o entendimento técnico: no direito do trabalho, contratos assinados sobrepõem-se a promessas verbais, especialmente quando envolvem verbas de natureza salarial.
"A decisão reafirma a soberania dos contratos de trabalho. O PSG não conseguiu apresentar provas documentais de que o jogador renunciou formalmente aos valores", explicam especialistas em direito esportivo.
Impacto Financeiro e o Fair Play da UEFA
Para o PSG, o desembolso de € 61 milhões representa um golpe significativo no orçamento da temporada. Além do valor direto, o caso gera um desgaste de imagem para um clube que tenta se reposicionar no cenário europeu com uma estratégia menos focada em "superestrelas" e mais em coletividade.
Já para Mbappé, a vitória jurídica é uma validação de sua postura firme durante a saída. O jogador, agora peça central do projeto do Real Madrid, sempre manteve o discurso de que estava apenas cobrando o que lhe era devido por contrato.
O Que Acontece Agora?
Embora a decisão do Tribunal de Paris seja um marco, o PSG ainda possui mecanismos de recurso em instâncias superiores, como o Tribunal de Cassação ou até levar a disputa para tribunais de arbitragem. Entretanto, a pressão da LFP e a clareza da sentença atual tornam a reversão do cenário cada vez mais difícil para o clube.
Este veredito serve como um aviso para o mercado da bola: acordos de bastidores e "promessas de honra" raramente sobrevivem ao escrutínio judicial quando entram em conflito com as leis trabalhistas e contratos bilionários.
Cronologia do Conflito:
Maio de 2022: Mbappé renova com o PSG até 2024, com opção de mais um ano.
Agosto de 2023: Jogador é afastado por não querer renovar; suposto acordo verbal é feito para sua reintegração.
Junho de 2024: Contrato encerra e Mbappé assina com o Real Madrid.
Setembro de 2024: LFP ordena pagamento; PSG recorre.
Dezembro de 2025: Tribunal de Paris confirma a condenação de € 61 milhões.
A saída de Mbappé de Paris foi conturbada dentro de campo, mas é fora dele que o prejuízo maior se concretizou para o campeão francês. Com a justiça ao lado do "Tartaruga Ninja", o PSG agora precisa organizar o fluxo de caixa para quitar uma dívida que se tornou o símbolo de um divórcio traumático.

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