O futebol brasileiro é mestre em roteiros improváveis, mas poucos imaginariam que a relação mais conturbada do Ninho do Urubu nos últimos anos ganharia um novo capítulo a quilômetros de distância do Rio de Janeiro. Com a confirmação de Tite no comando técnico do Cruzeiro para 2025, o treinador reencontra seu maior "problema" recente: Gabriel Barbosa, o Gabigol.
Abaixo, detalhamos a origem do atrito, o desgaste no Flamengo e como a diretoria da Raposa pretende gerir essa bomba relógio no vestiário mineiro.
O Início de Tudo: "Tite, o Gabigol não precisa de você"
A rusga entre o técnico e o atacante não começou no Flamengo, mas sim na Seleção Brasileira. O estopim público ocorreu após a convocação para a Copa do Mundo de 2022. Gabigol, que vivia grande fase, ficou de fora da lista final de Tite para o Catar.
Durante a festa do título da Libertadores de 2022, no trio elétrico, a torcida rubro-negra entoou o coro: "Ô Tite, vai se f**, o Gabigol não precisa de você"*. O atacante, empolgado, respondeu com um sonoro "Eu já jogo em uma seleção". O episódio gerou um mal-estar imediato que nunca foi totalmente digerido pelo treinador, conhecido por prezar pela hierarquia e pelo respeito institucional.
O Gelo no Flamengo: Reserva e Silêncio
Quando Tite assumiu o Flamengo em outubro de 2023, a expectativa era de uma "reconciliação profissional". No entanto, o que se viu foi o oposto. Sob o comando de Adenor, Gabigol viveu seu pior momento técnico e emocional no clube:
Perda da Titularidade: Tite priorizou Pedro, alegando critérios técnicos e táticos (o "pivô" e a presença de área).
Poucos Minutos: Gabigol passou a entrar apenas nos minutos finais das partidas, muitas vezes visivelmente desanimado.
Afastamento Interno: Relatos de bastidores indicavam que a comunicação entre os dois era estritamente profissional, beirando a frieza.
A saída de Tite do Flamengo em setembro de 2024 parecia ter colocado um ponto final nessa história. Gabigol, inclusive, recuperou espaço momentâneo com Filipe Luís antes de anunciar sua saída para o Cruzeiro. O que ninguém esperava era que o destino os uniria novamente tão cedo.
O Fator Cruzeiro: Por que a Raposa Apostou no Reencontro?
A contratação de Tite por parte de Pedro Lourenço, dono da SAF do Cruzeiro, visa dar solidez defensiva e mentalidade vencedora ao projeto mineiro. No entanto, ter Gabigol — a maior contratação da era SAF — sob as ordens de seu maior desafeto é um risco calculado.
Os Desafios de Tite no Mineirão
Tite chega ao Cruzeiro com a missão de extrair o melhor de um elenco em reconstrução. Para que o projeto funcione, ele precisará:
Gerir o Ego: Convencer Gabigol de que ele é peça chave, mesmo que o modelo de jogo exija sacrifícios defensivos.
Paz Selada: Estabelecer um diálogo transparente para evitar que o vestiário se divida entre "pró-Tite" e "pró-Gabi".
A Postura de Gabigol
Para o atacante, o Cruzeiro representa a chance de provar que Tite estava errado no Flamengo. Se Gabi se dedicar taticamente, ele tem tudo para ser o rosto da nova era celeste. Se mantiver a postura de confronto, o Cruzeiro pode enfrentar uma crise interna antes mesmo do primeiro clássico.
O Papel da Diretoria
A cúpula cruzeirense já teria conversado com ambos antes das assinaturas dos contratos. O discurso é de "página virada". No futebol profissional de alto nível, resultados costumam curar feridas. Se Gabigol começar a balançar as redes e o Cruzeiro de Tite for sólido, o passado no Flamengo será apenas uma anedota.
"O Cruzeiro é maior que qualquer vaidade individual. Esperamos que o profissionalismo que ambos demonstraram em suas carreiras prevaleça em Belo Horizonte." — Fonte interna do clube.
O Que Dizem os Especialistas?
Analistas acreditam que Tite pode ser o técnico ideal para "enquadrar" Gabigol taticamente, desde que o atacante aceite ser liderado. Por outro lado, o estilo metódico de Tite costuma colidir com jogadores de personalidade explosiva em momentos de jejum de gols.
O reencontro na Toca da Raposa será, sem dúvida, o maior reality show do futebol brasileiro em 2025. O desfecho? Só o campo dirá se teremos um abraço de gol ou mais um capítulo de polêmicas nas coletivas de imprensa.
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