A Seleção Brasileira masculina de futebol viveu uma manhã (ou noite, no fuso asiático) de terça-feira indigesta e, mais do que isso, historicamente amarga. Após abrir uma confortável vantagem de 2 a 0 no primeiro tempo, o Brasil sofreu uma virada inacreditável e inédita para o Japão, perdendo o amistoso preparatório para a Copa do Mundo de 2026 por 3 a 2, no Ajinomoto Stadium, em Tóquio. A derrota, a primeira do time Canarinho para os Samurais Azuis em 14 confrontos, expôs fragilidades mentais e defensivas que ligam o sinal de alerta máximo para o técnico Carlo Ancelotti.
O resultado surpreendente encerra de forma melancólica a Data Fifa de outubro, que havia começado de maneira empolgante com a goleada de 5 a 0 sobre a Coreia do Sul. O que se viu no segundo tempo, no entanto, foi um time desorganizado, permissivo e, nas palavras do capitão Casemiro, que sofreu um "apagão".
Análise do Jogo: Dois Tempos Distintos e Erros Fatais
O primeiro tempo do Brasil foi, em grande parte, positivo e alinhado com a filosofia de Ancelotti. Com um meio-campo coeso formado por Casemiro, Paquetá e Bruno Guimarães, a equipe demonstrava fluidez na troca de passes, controle da posse e eficiência ofensiva, especialmente pelas laterais. Paulo Henrique, lateral-direito, abriu o placar aos 25 minutos, aproveitando assistência de Bruno Guimarães. Minutos depois, Gabriel Martinelli ampliou, após linda assistência de cavadinha de Lucas Paquetá. A Seleção Brasileira parecia no controle, com Vinícius Júnior e Martinelli funcionando bem nas pontas.
O Japão, por sua vez, estava bem postado defensivamente, mas tinha dificuldades em criar chances claras. Contudo, a etapa final transformou-se em um pesadelo em apenas 19 minutos.
A virada japonesa foi um misto de mérito nipônico (que elevou a intensidade e a pressão) e erros crassos brasileiros. O primeiro golpe veio aos 52 minutos, em uma falha individual do zagueiro Fabrício Bruno, que errou um passe bizarro na área, culminando no gol de Minamino. O erro não só recolocou o Japão no jogo, como desestabilizou o time brasileiro.
Em seguida, o Japão empatou, novamente com participação infeliz de Fabrício Bruno, que desviou para o próprio gol um chute de Nakamura. A pressão japonesa era incessante e a defesa brasileira, desorientada, não conseguiu reagir. O golpe final veio aos 70 minutos, quando Ueda subiu livre em cobrança de escanteio para decretar a histórica virada: 3 a 2.
Críticas e o Alerta de Casemiro
As críticas à Seleção Brasileira se concentram em dois pontos principais: a fragilidade mental e as experiências de Ancelotti.
1. Fragilidade Mental: O maior foco de crítica recai sobre a incapacidade de reação da equipe após o primeiro gol sofrido. Casemiro foi enfático ao declarar que "o maior erro da equipe foi não ter uma boa reação depois do primeiro erro", ecoando a fala de Ancelotti. O capitão resumiu a gravidade do "apagão": "Nesse alto nível você tem que manter o maior equilíbrio. Se você dorme 45 minutos, pode custar uma Copa do Mundo". A derrota mostrou que, mesmo com a vantagem, o time não soube gerenciar a pressão e se desintegrou taticamente e emocionalmente.
2. Erros Individuais e as Escolhas de Ancelotti: Embora o treinador italiano tenha tirado o peso da falha de Fabrício Bruno, classificando o "erro maior como da equipe", a noite foi particularmente desastrosa para o zagueiro, que teve participação direta nos dois primeiros gols japoneses. Além disso, Ancelotti fez oito alterações em relação ao jogo anterior, buscando testar peças. No entanto, as substituições feitas logo após o primeiro gol japonês, tirando jogadores que estavam bem como Martinelli e Vinícius Júnior, foram questionáveis e não surtiram o efeito esperado. O processo de "testes" é válido, mas o resultado final foi uma lição dolorosa sobre a importância da concentração e da manutenção de uma base sólida.
A derrota inédita para o Japão não apenas mancha a estatística, mas serve como um poderoso (e talvez necessário) alerta para o Brasil. Fica claro que, apesar do talento individual, o time de Ancelotti ainda precisa desenvolver a resiliência mental e a solidez defensiva para competir no mais alto nível. A Data Fifa de novembro, contra Senegal e Tunísia, será crucial para mostrar que a equipe soube aprender com o trauma de Tóquio.
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