A história recente do Manchester City Football Club é um conto de fadas moderno, mas com um motor movido a petrodólares. O que era um clube modesto, que chegou a disputar a terceira divisão inglesa no final dos anos 90, transformou-se, em pouco mais de uma década, em uma potência global, redefinindo o conceito de sucesso no futebol mundial. O ponto de virada definitivo aconteceu em setembro de 2008, com a aquisição do clube pelo Abu Dhabi United Group, um grupo de investimento liderado pelo xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, membro da família real de Abu Dhabi e vice-primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos.
A Injeção de Capital e a Estratégia de Longo Prazo
Antes da chegada do xeque Mansour, o Manchester City era um clube de "meio de tabela", vivendo à sombra de seu vizinho e rival, o Manchester United. O clube foi adquirido por cerca de $1 bilhão de dólares (R$ 4,9 bilhões na cotação da época, segundo uma das fontes), e a promessa de investimento era ilimitada. A fortuna pessoal do xeque Mansour, proveniente majoritariamente dos vastos negócios estatais e recursos petrolíferos dos Emirados Árabes Unidos, é estimada em dezenas de bilhões de dólares. Seu fundo familiar, que administra cerca de 10% das reservas de petróleo globais, garante um fluxo de capital que alterou drasticamente o panorama do futebol.
O investimento inicial foi focado em duas frentes: reforço de elenco e desenvolvimento de infraestrutura. O City quebrou recordes de transferências e atraiu alguns dos melhores jogadores do mundo. No entanto, a visão estratégica, liderada pelo presidente Khaldoon Al Mubarak, era de longo prazo, buscando não apenas comprar o sucesso, mas construí-lo de forma sustentável, apesar das críticas de que o dinheiro era a principal alavanca.
O primeiro grande marco esportivo veio com a conquista da FA Cup em 2011, que encerrou um jejum de 35 anos sem títulos expressivos. Em seguida, o clube venceu a Premier League em 2012 em uma final dramática contra o Queens Park Rangers. Esses títulos foram a prova de que a estratégia estava funcionando.
Do Investimento à Criação do "City Football Group"
O sucesso local foi o prenúncio de uma ambição ainda maior: a criação do City Football Group (CFG). Fundado em 2013, o CFG é uma holding que detém participações em diversos clubes de futebol ao redor do mundo, como New York City FC, Melbourne City FC, e, mais recentemente, o Bahia no Brasil (adquirindo 90% da SAF).
O CFG representa a internacionalização da marca Manchester City e a criação de uma sinergia global em termos de scouting, desenvolvimento de talentos e know-how administrativo. Essa estrutura não só expande a influência da marca, mas também aumenta as receitas comerciais do grupo, que se tornou a principal fonte de faturamento do clube. O patrocínio máster da camisa com a Etihad Airways (empresa aérea de Abu Dhabi) é um dos maiores do futebol mundial.
O Salto Financeiro e as Controvérsias
Graças à gestão do CFG e aos sucessos em campo, as receitas do Manchester City dispararam. O clube registrou um lucro recorde e a maior receita da história da Premier League na temporada 2022/2023, ultrapassando a marca de 712,8 milhões de libras (cerca de R$ 4,3 bilhões), impulsionado pela conquista da histórica Tríplice Coroa (Premier League, FA Cup e Liga dos Campeões). O crescimento do faturamento comercial, de direitos de transmissão e de bilheteria coloca o City entre os clubes mais ricos e valiosos do planeta.
No entanto, a ascensão meteórica não veio sem controvérsias. O Manchester City é alvo de acusações da Premier League por supostamente ter violado mais de 100 regras financeiras, incluindo a falta de fornecimento de informações financeiras precisas e o descumprimento do Fair Play Financeiro da UEFA. Essas acusações levantam a discussão sobre a legalidade de algumas de suas transações comerciais e a origem de parte de sua receita.
Além disso, os investimentos do xeque Mansour e de outros fundos do Golfo Pérsico no futebol europeu são frequentemente classificados por críticos como "sportswashing", uma tentativa de melhorar a imagem dos Emirados Árabes Unidos e desviar a atenção de questões relacionadas aos direitos humanos.
Apesar dos questionamentos, a trajetória do Manchester City é inegavelmente um dos fenômenos mais impactantes do futebol moderno. Em apenas 15 anos, o clube se transformou de uma equipe de história intermitente em um gigante que dita tendências no campo financeiro e esportivo, consolidando seu lugar como um dos "giga-clubes" da elite global, construído sobre uma fonte de riqueza sem precedentes no esporte.
Conquista após aquisição do Grupo City
Antes da compra, o City tinha apenas dois títulos de primeira divisão (Campeonato Inglês), e o último havia sido em 1968. A injeção de capital transformou essa história, resultando em um domínio esportivo quase sem precedentes na Inglaterra e, mais recentemente, na Europa.
Desde 2008 até a temporada 2023/2024, o Manchester City conquistou 23 troféus principais.
O Domínio Nacional: Premier League e Copas
O foco inicial foi estabelecer a hegemonia na Inglaterra, o que foi alcançado com sucesso notável:
Premier League (Campeonato Inglês) - 8 Títulos
2011–12 (O título que encerrou 44 anos de jejum, com o gol histórico de Agüero nos acréscimos).
2013–14
2017–18 (O primeiro dos seis títulos sob o comando de Pep Guardiola).
2018–19
2020–21
2021–22
2022–23
2023–24 (Inédito tetra-campeonato consecutivo na história do futebol inglês).
Copa da Liga Inglesa (EFL Cup/Carabao Cup) - 6 Títulos
2013–14
2015–16
2017–18
2018–19
2019–20
2020–21 (Quatro títulos consecutivos, um recorde na competição).
Copa da Inglaterra (FA Cup) - 3 Títulos
2010–11 (O primeiro troféu da nova era, quebrando um jejum de 35 anos).
2018–19
2022–23
Supercopa da Inglaterra (Community Shield) - 3 Títulos
2012
2018
2019
A Conquista Global: Europa e Mundo
A partir de 2023, o City completou o ciclo de sua transformação ao finalmente conquistar os títulos que lhe faltavam, atingindo o topo do futebol mundial:
Liga dos Campeões da UEFA (UEFA Champions League) - 1 Título
2022–23 (A tão esperada e inédita taça continental, coroando a Tríplice Coroa).
Supercopa da UEFA - 1 Título
2023
Copa do Mundo de Clubes da FIFA - 1 Título
2023
O Resultado: Tríplices Coroas e Consistência
A concentração de títulos na última década e meia é o resultado mais visível da mudança de proprietário.
O City não só acumulou troféus, como estabeleceu marcas de consistência histórica:
Tríplice Coroa (Continental) em 2022/23: Conquistou a Premier League, a FA Cup e a Liga dos Campeões na mesma temporada.
Tetra-Campeonato Inglês (2020/21 - 2023/24): Tornou-se o primeiro clube na história da primeira divisão inglesa a vencer a liga quatro vezes seguidas.
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