Leicester City de zebra a conquista da Premier League 2015-2016 pela Primeira vez na história

 

Leicester City coma taça da Premier League


A conquista da Premier League pelo Leicester City na temporada 2015-2016 da Premier League  é universalmente aclamada como a maior zebra e a história mais inacreditável do futebol moderno. Em um esporte cada vez mais dominado por potências financeiras, a ascensão dos Foxes demonstrou que a organização, o trabalho em equipe e a fé inabalável podem, ocasionalmente, prevalecer sobre o poder do dinheiro.

O Ponto de Partida: O Milagre das Odds

Para entender a magnitude do feito, é preciso retroceder ao início da temporada. O Leicester City, um clube com 132 anos de história, jamais havia conquistado um título da primeira divisão. Na temporada anterior (2014-2015), a equipe havia escapado milagrosamente do rebaixamento com uma arrancada de sete vitórias nos últimos nove jogos.

No verão de 2015, as casas de apostas britânicas colocaram as chances de o Leicester ser campeão em 5.000 para 1. Para contextualizar, as mesmas odds eram dadas para eventos improváveis, como Elvis Presley ser encontrado vivo ou o monstro do Lago Ness ser comprovadamente real. A expectativa do clube e dos torcedores não era o título, mas sim a simples permanência na Premier League.

O Arquiteto do Sonho: Claudio Ranieri

Apesar de uma equipe modesta, o clube passava por uma mudança crucial. O técnico italiano Claudio Ranieri foi contratado, sendo visto por muitos como um treinador "ultrapassado" na época, famoso por suas passagens sem títulos por grandes clubes. Ranieri chegou com a meta humilde de atingir a marca de 40 pontos, considerada a "linha de segurança" contra o rebaixamento.

Ranieri introduziu uma atmosfera de leveza e camaradagem no elenco, incentivando o foco e a diversão. Seu lema de focar "jogo após jogo" manteve a pressão longe do time, permitindo que os jogadores se concentrassem em sua execução tática simples, mas devastadora.

A Máquina Tática: O Futebol de Contra-Ataque

O sucesso do Leicester não foi baseado em posse de bola, passes elaborados ou grandes estrelas. Foi um triunfo tático da simplicidade e da velocidade.

O sistema 4-4-2 de Ranieri era a personificação do contra-ataque letal:

  1. Defesa Sólida: Com o capitão Wes Morgan e Robert Huth formando uma dupla de zaga imponente, o time tinha uma base física e resiliente, protegida pelo goleiro Kasper Schmeichel.

  2. O Motor Incansável: O francês N'Golo Kanté foi o coração do time. Ele liderou a liga em desarmes e interceptações, roubando bolas e transformando defesa em ataque com uma energia incansável.

  3. A Criatividade e o Artilheiro: A bola rapidamente chegava a Riyad Mahrez, um atacante argelino contratado por apenas £400 mil. Mahrez combinava habilidade, drible e visão de jogo, sendo o principal criador de jogadas (17 gols e 11 assistências). O foco principal era Jamie Vardy, um atacante que havia saído do futebol amador anos antes. Vardy usava sua velocidade para explorar a defesa adversária, terminando a temporada com 24 gols e quebrando o recorde da Premier League ao marcar em 11 jogos consecutivos.

A Campanha Histórica e o Clímax

A surpresa começou na primeira metade da temporada, com o Leicester mantendo-se consistentemente entre os líderes. À medida que os tradicionais "gigantes" (Chelsea, Manchester United e Liverpool) tropeçavam em crises de performance e troca de técnicos, a consistência do Leicester se destacava.

A incerteza, porém, durou até o final. As casas de apostas só reduziram as odds drasticamente quando o time assumiu a liderança na virada do ano.

O clímax veio na reta final, quando a disputa se concentrou no Leicester City e no Tottenham Hotspur. Com vitórias cruciais (como o 3 a 1 sobre o Manchester City e o 1 a 0 sobre o Southampton), os Foxes construíram uma vantagem confortável.

O título foi matematicamente confirmado em 2 de maio de 2016, quando o Tottenham Hotspur empatou com o Chelsea por 2 a 2. Jogadores do Leicester, reunidos na casa de Jamie Vardy para assistir ao jogo, explodiram em uma celebração que ressoou pelo mundo.

O Leicester City encerrou a campanha com 81 pontos (10 à frente do vice-campeão Arsenal), 23 vitórias e apenas 3 derrotas.

A conquista do Leicester City não foi apenas um título; foi uma história de conto de fadas que reacendeu a esperança no futebol, provando que, mesmo na era moderna, o improvável é possível. O "campeão do povo" se tornou um fenômeno global e um lembrete atemporal do charme e da imprevisibilidade do esporte.

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